terça-feira, 20 de agosto de 2013

Reenactment made in Brazil

Boa noite!

Como percebem, hoje é terça e não segunda. Esqueci de postar ontem mesmo, mas a vida segue.

Bom, muitas pessoas dizem não haver sentido em recriacionismo histórico no Brasil. Essa é a pior asneira que já ouvi.

Primeiramente o reenactment não está vinculado a um lugar específico, mas sim com QUALQUER lugar específico. Para fazer claro, no primeiro post deste blog citei sobre a Segunda Guerra Mundial e Guerra Civil Americana. Inclusive postei fotos desta última.

Como é óbvio, a guerra civil americana não aconteceu na Europa e talvez não tenha muitos adeptos por lá em termos de recriacionismo histórico, mas nos EUA é bastante comum e conta com inúmeros entusiastas.

Aqui, no entanto, não há um interesse do público em geral pela história. É pelo menos uma opinião minha, há quem apresente argumentos para o contrário, mas vamos lá.

Como desafio, eu adoraria ver um grupo de recriacionistas brasileiros, recriando, sei lá, as Bandeiras, se inspirando em personagens como Domingos Jorge Velho ou Raposo Tavares. Com seus trajes e costumes que não eram nem portugueses nem indígenas, sua cultura particular e tudo o mais. Acontece que somos ensinados desde crianças (a não ser, talvez, no estado de São Paulo onde, por outro lado, pinta-se uma imagem heróica) que os bandeirantes eram sanguinários matadores de índios (ainda que muitos nem soubessem falar português...). Independente da versão, são personagens históricos importantíssimos para o nosso país e deveriam ser melhor estudados. Não no dilema "eram bons ou maus", afinal, eu gosto de "recriacionismo viking" e é impossível dizer que eles eram bacanas quando estavam invadindo e saqueando (pra não usar termos mais fortes).

De qualquer forma, a história se trata da humanidade e não devemos atribuir juízos universais para todos os indivíduos de um certo estrato social. Ou seja, mais do que tentar limpar a imagem de alguém ou deturpá-la, o mais importante é retratá-la. E que os que absorvem as informações formem suas opiniões. Posições ideológicas devem se ausentar da recriação (embora, tal como num estudo acadêmico sobre história, isso é impossível no todo).

Desta maneira, no Brasil seria sim possível um reenactment de qualidade sobre nossa própria história, como retratar a escravidão, os engenhos de açúcar ou os contatos entre europeus e nativos. O grande desafio é fazer isto de um modo honesto. Falo isso porque há muita desinformação sendo vendida como verdade na historiografia brasileira (principalmente aquela destinada para crianças e adolescentes) e ir de encontro a essas verdades ou desmentí-las é algo complicadíssimo.

Outro ponto que acho justo abordar é o próprio recriacionismo medieval no nosso país. Há quem negue suas condições, uma vez que "não tivemos Idade Média". Pois bem, Argentina, Chile ou Estados Unidos e Canadá também não e lá estão eles, com bons grupos, com boas pesquisas e tudo o mais.

De qualquer forma, também temos uma matriz cultural vinda da Europa, além de nosso berço nativo e nossas influências africanas. Já que é assim, por que não aproveitá-la?

Dizer que um brasileiro não pode fazer um recriacionismo histórico de um período europeu é um atestado de jumentice tão acentuado quanto dizer que alguém não pode praticar karatê sem ser nipo-descendente. E dizer que nós não podemos praticá-lo por não ter nada a ver com nosso contexto seria como afirmar que a capoeira é algo que devesse ficar na África. Entendem a gravidade?

Portugal fica na Europa e nós falamos português. Isso já seria o bastante para "provar" meus argumentos, mas para quem não entende da coisa, a expansão ultra-marina portuguesa ocorreu justamente no término de um período marcadamente feudal. Aliás, como consequência deste. Podemos ter "surgido" enquanto território mapeado por um homem branco aleatório qualquer no século XVI, mas nossas raízes são mais antigas.

De qualquer forma, o recriacionismo busca incluir o passado no nosso presente, de forma educativa. Como faríamos isso excluindo os participantes apenas por não compartilharem um passado direto com a coisa?

Bom, esse é um assunto que renderia posts e mais posts se eu quisesse, mas vou me ater a poucos parágrafos, porque o realmente fundamental já foi dito e eu transmito a síntese em uma frase: Recriacionismo é uma retratação cultural, não étnica ou territorial, de um passado qualquer na história da humanidade. Logo, qualquer um pode retratar qualquer coisa, desde que tenha a vontade e o conhecimento para tal.

Até próxima semana.

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